domingo, 6 de abril de 2014

Luis Soriano quis dividir seus livros com as crianças de aldeias sem acesso à leitura


“Se eles não têm biblioteca, temos que inventar uma”. Com essa motivação o colombiano Luis Soriano começou a levar livros aos povoados de seu país onde as crianças não têm acesso a livros. O meio de transporte é a força dos burros Alfa e Beto.

A iniciativa recebeu o nome de Biblioburro, e foi narrada ludicamente pela escritora Jeanette Winter, em um livro ilustrado cheio de cores e imaginação.


A história conta que Luis tinha muitos livros, o que aborrecia sua mulher, porque livros não se podem comer. Então resolve empreender a jornada de levá-los às aldeias perdidas de sua nação.


Saiba mais sobre o Biblioburro no vídeo da Comunidad Andina:


Fonte: http://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/biblioburro-leva-livros-aos-povoados-perdidos-da-colombia/

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Livro, um santo remédio para a cabeça

Conheça a biblioterapia, estratégia que ganha cada vez mais espaço no tratamento de problemas psicológicos

Era uma vez, no já não tão distante reino da Inglaterra, um grupo de amigos da Reading Agency (Agência de Leitura, em inglês) que acreditava no poder terapêutico das palavras. Um dia, eles juntaram forças e começaram a usar livros para combater os mais diversos vilões que se apoderam da mente humana – da ansiedade a depressão. A arma funcionou tão bem que os governantes da região alçaram a chamada biblioterapia ao status de política pública de saúde, beneficiando milhares de britânicos que lutam contra esses distúrbios todos os dias.
Por mais fantástica que possa parecer, saiba que essa história não faz parte de nenhum conto da carochinha. A biblioterapia foi implementada pelo governo britânico em 2013. Por meio dela, o psiquiatra identifica qual doença está afligindo seu paciente e, aí, prescreve um livro específico como parte integrante do tratamento. Com a receita em mãos, o indivíduo vai até uma biblioteca de sua cidade e pega emprestada a obra sugerida. “Nesses primeiros meses de funcionamento, o retorno do público vem sendo bem positivo”, destaca Debbie Hicks, fundadora e diretora de pesquisa da Reading Agency, organização que capitaneia a terapia literária na Inglaterra. Atualmente 17 transtornos, como fobias e a bulimia nervosa, já têm indicações de leitura. “Os títulos são selecionados conforme evidências encontradas em artigos científicos e recebem o aval de especialistas”, completa Debbie.
Muitos dos livros recomendados são técnicos e explicam ao leitor detalhes do seu distúrbio. “Quando o paciente está munido de informações corretas sobre o problema, torna-se mais capaz de superá-lo”, argumenta o psiquiatra Paulo Gaudencio, de São Paulo. Ao mesmo tempo, a agência organiza outra lista – essa a partir do voto do público -, de romances, poesias e crônicas que incrementam o estado de ânimo.
Estudos vêm avaliando a eficácia da biblioterapia contra variados males mentais. Um trabalho na universidade de Sussex, na Inglaterra, descobriu que folhear as páginas de um livro é uma das maneiras mais eficazes de relaxar. Na experiência, dedicar seis minutos a essa atividade reduziu os níveis de estresse de voluntários em 68% e superou, de longe, hábitos como ouvir música, tomar chá, caminhar e jogar videogame. “A leitura ajuda a pessoa a identificar pensamentos prejudiciais e o melhor jeito de controlá-los”, avalia o psiquiatra Christopher Williams, da Universidade de Glasgow, na Escócia. Segundo o cientista, a interpretação dos textos ainda incentiva a reflexão sobre a vida e a mudança de determinadas atitudes que podem estar por trás da bagunça emocional.
No Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, a biblioterapia está presente na ala pediátrica há mais de 15 anos. “Só incluímos em nossas estantes volumes com histórias felizes”, diz o escritor Celso Sisto, professor de literatura da universidade e responsável pelo acervo da biblioteca infantil. Além de ler os textos, é preciso interpretar e discutir o enredo com os pequenos, a fim de garantir melhores resultados. “Acredito que essa iniciativa chega a encurtar o tempo de internação”, aposta o pediatra João Carlos Batista Santana, do centro médico gaúcho. “Para as crianças, tudo é imaginação. Até os profissionais de jaleco branco entram nas histórias de fadas e bruxas”, completa. Por meio da fantasia, o trauma da internação fica em segundo plano. Aliás, o projeto deu tão certo que em 2013 será inaugurada uma área com livros para adultos, que também vão ter a terapia das letras à disposição para lidar com as emoções durante a estada no hospital.
Até em idosos com lapsos de memória os efeitos da biblioterapia são animadores. A neuropsicóloga Martha de Sant'Anna, por exemplo, trabalha com a leitura de contos de fada para velhinhos portadores de demência na Inglaterra e na França. “Essas narrativas sempre tem um final alegre, trazendo paz e tranquilidade”, relata a autora do recém-lançado Fortalecimento da Memória pelos Contos de Fada (Editora Vozes). “Elas permitem uma volta a infância, longe de problemas e inquietudes”, conclui. E isso patrocina melhoras na capacidade de recordar.
A escolha do título, no caso de perrengues psiquiátricos, é especialmente criteriosa. “Textos pessimistas ou trágicos devem ser evitados. Isso porque os depressivos, por exemplo, estão vulneráveis e necessitam de carinho e amor”, esclarece a biblioteconomista Clarice Fortkamp Caldin, da Universidade Federal de Santa Catarina. E é assim que chegamos à moral da história: com bons livros em mãos, fica mais fácil viver feliz para sempre.

Por André Biernath

Fonte: Revista Saúde Setembro 2013 pags. 68 a 70



Reading Agency: http://readingagency.org.uk/

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Aprenda a ensinar o gosto da criança pela leitura 

1. Organize seu tempo e leia para uma criança
Separe uma parte do seu tempo exclusivamente para ler. Mostre que esse momento é só de vocês e que a atenção está toda voltada para a leitura e para a própria criança. 

2. Deixa a criança sentir os livros 
Deixe os livros sempre à disposição da criança, para que ela possa explorá-los e compreender como são utilizados. A criança deve se familiarizar com eles, antes mesmo de começar a ler. Sentir, tocar, faz parte do aprendizado. 

3. Leia a história em vez de contá-la 
Ler um texto em voz alta garante acesso da criança ao universo da escrita, diferentemente de quando contamos ou dramatizamos uma história. Valorize a leitura e evite improvisos. Aproveite a oportunidade para apresentar novas palavras as crianças. 

4. Valorize o livro 
Os livros infantis são ricos não só em relação ao texto mas também às ilustrações e aos projetos gráficos. Revele esses recursos para a criança, permita que ela desenvolva seus gostos e preferências sociais. 

5. Permita à criança expressar-se enquanto você lê 
Durante a leitura, pode ser que a criança comece a falar sobre a história, demonstrando curiosidade e interesse. Deixe-a expressar-se livremente. Esse envolvimento torna a leitura mais significativa. 

6. Convide pessoas de diversas faixas etárias para ler 
A leitura pode ser compartilhada por várias gerações. É uma ótima oportunidade para a troca de experiências.  

Fonte: www.itau.com.br/itaucrianca

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


Redes crescem e livrarias médias encolhem no país


As livrarias do país estão cada vez mais concentradas em redes e na região Sudeste, segundo o Diagnóstico do Setor Livreiro, divulgado ontem pela Associação Nacional de Livrarias (AN L).
O levantamento trianual, realizado desta vez pela empresa de pesquisa GFK, mostra que o número de lojas pertencentes a redes com mais de 20 filiais passou de 14% para 20 % do total -destaque para as que têm mais de cem lojas, que representavam 6% em 2009 e, agora, 15%.
As livrarias independentes, com uma ou duas lojas, representam 62% do total, patamar similar ao de 2009. O impacto maior foi nas livrarias com três a 20 filiais, que tinham 23% de participação e hoje correspondem a 17%.
"O lema hoje é ser gigante ou encolher e ser excelente", disse Ednilson Xavier, presidente da ANL, se referindo à grande porcentagem de livrarias especializadas em algum segmento: 61% do total.
Entre as livrarias que se dizem especializadas, se destacam as religiosas, que correspondem a 19%, sendo 15% católicas e 4% evangélicas. Outras 18% informaram ser especializadas em literatura.
Houve aumento da concentração de lojas na região Sudeste, a mais populosa do país. Em 2006, na primeira edição do Diagnóstico do Setor Livreiro, a região abrangia 53% das livrarias. Hoje, esse número é de 60%.
Já o Norte caiu de 5% para 2% no período, e o Centro-Oeste se manteve em 4%. O Nordeste, depois de cair de de 20% em 2006 para 12% em 2009, mostra sinais de recuperação, chegando a 15%.
O levantamento foi realizado a partir de questionários respondidos por 716 lojas (há 3.481 livrarias no país) de julho a outubro deste ano.
A ANL aproveitou para ressaltar, numa época em que Kobo, Google e Amazon chegam ao Brasil, a carta enviada a editores e ao governo sugerindo medidas para evitar que o livro digital prejudique livrarias. Entre as sugestões, a de que haja um intervalo de 120 dias entre o lançamento do livro físico e do digital.


Fonte: Folha de São Paulo 05/12/12

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Quem não tem sua própria história?


Fechou a Curitiba onde vivi.Só não fechou este meu tempo de guri.Para meus amigos curitibanos e os importados de longa data!!!A gurizada de hoje não sabe o que é.Fechou a Curitiba onde eu viviSó não fechou este meu tempo de guri.Viu, guria !Saudade da Curitiba dos meus tempos de guri.Das partidas do “bete-ombro”.Do jogo de tique.De pular corda e amarelinha riscada de giz na calçada.Do jogo de búrico ( bolinhas de gude, de vidro…)Fidusca em pó, Maria Bodó.Dos treinos no campinho com as bolas de “capotão” da Casa Walter.Saudade do jogo do bafo com as Balas Zequinha.Tinha Zequinha Médico.Zequinha Radialista.Zequinha Motorista.Zequinha Papai Noel ( a mais difícil, quase não saía ) .Tinha até Zequinha Ladrão.As figurinhas embrulhavam aquelas balas ruins, que ninguém chupava, mas que divertiram muito a piazada.No jogo do bafo era proibido cuspir na mão.Saudade dos balões de São João que iluminavam as noites frias da Curitibados meus tempos de guri.Era Balão Caixa, Balão Mimosa, Balão Cruz.De todos os tamanhos e de todas as formas.Tinha uns grandes, tão grandes que até os bombeiros vinham ajudar na hora de acender a tocha.Os soldados vinham, erguiam a escada, seguravam a copa, o baloeiro acendia a tocha, o fogo ardia e o balão subia, espargindo parafina incandescente sobre a Curitiba dos meus tempos de guri ( nunca ouvi falar que um balão tivesse provocado incêndio! ).Das raias ( pipas, pandorgas ) que esvoaçam pelos campos da Galícia.Éramos felizes os piás de Curitiba.Espremidos nas calças curtas os piás e as meninas nas suas saias de sarja azul marinho,toda pregueada, como mandava o uniforme escolar, levavam para a escola um punhado de bolachas Duchen e meia garrafa de Capilé.Às vezes, Crush ou Mirinda.Quando não, um suco de uva Grapete.Ou gasosa de framboesa da Cini.Prá variar, Minuano.Tinha uns que levavam Bidu-Cola ou Guaraná Caçulinha, com bolacha Maria.Aos domingos, faceiros, no terninho de marinheiro das Lojas Mazer, iam à matinadado Cine Ópera para ver Tom e Jerry.As meninas, gabolas, enfeitadas em suas saias godê, da Joclena, blusinhas da Mazer,uma loja infantil ao lado da Gomel, na Praça Tiradentes, ou com vestidinhos da Maison Blanche.
Piá nenhum admitia vestir o tal de brim coringa não encolhe, aquele tecido azulão grosso,
especialmente para macacão de mecânico,
que hoje chamam de jeans.
As meninas vestiam tafetá ou veludo, também em festas, os vestidos godê ponche feitos de organdi suíço.
Os meninos, terninhos de casemira.
Quando muito, camisa Volta ao Mundo e calça de Tergal.
Piás felizes chutando bola, descalços,
sobre as rosetas dos campinhos por todos os lados.
Esse tempo acabou, assim como acabou a Modelar, a Casa Rosa, a Casa Vermelha,
a Casa Sade…
Não tem mais a Casa da Sogra do Aron Ceranko, presidente do Ferroviário
(que também não existe mais).
Não tem mais a Casa da Pechincha.
Desapareceu o Louvre do Kalluf .
Cadê seu Jamil e seu Miguel e a Capital das Modas?
Não tem mais a Casa das Meias do telefone 66-6666, nem o 444 da Barão.
A Casa Edith, acredite, ainda tem, mas os chapéus Prada não vende mais.
E a Três Coelhos, em que cartola se meteu?
Não tem mais Móveis Cimo.
Já não se ouve mais o apito da Fábrica Lucinda.
Mudou a Casa Feres, pequena por fora e grande por dentro .
As Casas Lorusso, suba que o preço desce , também desapareceram.
Fechou a Casa Dico  – Fique Rico comprando na Dico -
A Joalheria Pérola, do Kaminski,
a Importadora Americana, do Marcos Salomão Axelrud, que vendia o Simca Chambord e o Simca Rally.
E as casas suspeitas da Uda e da Otília ?
Desapareceram o Frischmann´s Magazine,
assim como o Chocolate Basgal, da Tiradentes.
Não tem mais a Tarobá, do Pedro Stier, em cujas vitrines o pioneiro Nagib Chede exibiu o primeiro programa de TV do Paraná, projetado diretamente do último andar do Edifício Tijucas.
E o povo encantado via o Jamur em preto e branco, contando as notícias do dia.
Não tem mais o Cine Curitiba onde os piás trocavam gibis do Capitão Marvel, pelos X-9 do Monte Hale.
Cadê o Cine América, o Palácio, o Avenida,
o Ribalta, o Oásis, o Rívoli, o Vitória, o Curitiba,
o Marabá, o Luz, o Arlequim, o Ritz?
Até os filmes do Morguenau e do Guarani chegaram ao fim.
Acabaram as matinês do domingo à tarde.
Se você aprontava durante a semana lá se ia a matinê de domingo.
Era ficar na janela vendo os amigos irem, com um monte de gibis embaixo do braço.
Lembram que quando o mocinho beijava a mocinha todo mundo fazia barulho com os pés no assoalho de madeira do cinema?
Não tem mais o bar Pigalle.
Nem o Massalândia Roma, do seu Francesco. D’Angelis, ali na praça Osório.
E a Panificadora Berberi na esquina da Trav Oliveira Belo com Rua XV?
E o Lá no Luhm, da Barão?
E a Charutaria Liberty, na esquina da XV com Monsenhor Celso, para onde se mudou?
O Hermes Macedo – do Rio Grande ao Grande Rio – também acabou…
E o Prosdócimo ?
Não vejo mais as Óticas Curitiba, dos Irmãos Barbosa.
Onde foi parar a Casa Nickel, que vendia Chevrolet ?
Desapareceram a Casa Londres e a Ottoni.
O Lord Magazine, onde se comprava o esporte-fino para ser exibido nos chás-dançantes de Medicina e Engenharia.
A Slopper também acabou.
Mesmo fim levaram Calçados Clark, Lojas Ika e Pugsley.
Acabou-se o Café Alvorada do Senadinho.
Fechou o Ouro Verde, onde nasceu a Boca Maldita.
Nem Café Marumby, nem Café Piraquara tem mais.
Apagou-se o neon da Caixa Econômica, na Praça Zacarias, com as moedinhas correndo e caindo no cofrinho.
E a Farmácia Minerva, que vendia Zig e Mercúrio-Cromo e também pasta Kolynos, creme dental Eucalol e sabonete Lifebuoy.
Será que ainda existe o Talco Ross ?
E o Rum Creosotado ?
E Auricedina?
E a Pomada Minâncora?
E o Vinho Reconstituinte Silva Araújo?
E o Regulador Xavier : número 1 excesso
número 2 escassez.
E Antissardina ( o segredo da beleza feminina ).
E o Creme Rugol.
E as Pílulas de Vida do Doutor Ross – fazem bem ao fígado de todos nós – ?
Nem a Stellfeld, do relógio de Sol sobrou,
com suas prateleiras repletas de Cibalena, Varamon e Cafiaspirina, Glostora e Gumex.
Só o relógio de Sol resistiu, como a testemunhar os meus tempos de guri.
Saudades do time infanto-juvenil do Juventus
o moleque do Batel do técnico Tuca, do Sabá, dos Cava, do Tonico, do Paulinho, dos irmãos Popadiuk, do Roberto italiano …
No Edifício Azulay ficava a Musical .
Ali também ficava a loja de calçados Pisar Firme. A Clark também ficava lá, assim como a Farmácia Colombo.
Eo curso W.Abreu, preparatório para Direito ?
E o Curso 19 de Dezembro ?
Fechou o Banco de Curitiba, quebrou o Banestado… E o Bamerindus foi vendido…
Cadê o Colégio Parthenon, o Iguassu ( pagou, passou! ) da Praça Rui Barbosa?
E o Colégio Cajuru ?
Por onde andarão as suas alunas, tão bonitas e invejadas ?
E as meninas do Sion com suas saias cor de vinho?
E as normalistas do Instituto de Educação por onde andarão?
Acabaram-se as empadinhas da Cometa e os queijos da Casa da Manteiga.
No Mercado Municipal tinha o Manquinho, da Mercearia Sulina. Só vendia o que era de primeira . Ele mesmo dizia: “Aqui presunto, se quer mortadela, vai em outro”.
A coalhada da Schaffer, servida pelo seu Milton,
o Toddy da Leiteria Viana, e o pão sovado da Berberi, em que forno se enfornou ?
Por que não tem mais Milo para beber com leite, era tão gostoso !
E a pastelaria Ton Jan, da Marechal ?
Tinha pastel de carne e de palmito. E também o especial, com ovo e azeitona.
Fechou a Churrascaria Bambu, a Tupã.
Até a Caça e Pesca fechou.
Alguém se lembra do Mitóca ?
Não tem mais o açougue Garmatter e nem o Francês.
E o piá de pedra fazendo xixi na frente do Posto Garoto, cresceu?
E a pérgola na Travessa Oliveira Belo que os Bombeiros mandaram retirar ?
Acabou-se o rabo-de-galo do Bar Americano
e não tem mais a carne de onça do Buraco do Tatu. Nem o filé completo da Tingui.
Nem a dobradinha do Restaurante Rio Branco.
Do pastelzinho do Pasquale, nas manhãs dos sábados no Passeio Público, restou a saudade.
O Locanda Suíça desapareceu.
Até o Gruta Azul sumiu.
O Jatão, em Santa Felicidade, travou a turbina e caiu. Desmoronou.
Nem a Maria do Cavaquinho, nem a Gilda,
nem o Esmaga, nem o Osvaldinho da Praça Osório, perambulam pelas portas da Velha Adega, na Cruz Machado, ou pela frente da Gogó da Ema na Comendador.
Por ali onde andava o Saca-Rolha, nas tardes de sol, com o seu guarda chuva sempre fechado.
O Bataclã não desfila mais com o seu terno branco e cravo vermelho na lapela, pela frente do Fontana Di Trevi ou da Guairacá, na João Pessoa que virou Luiz Xavier.
Fechou a Curitiba onde vivi.
Só não fechou este meu tempo de guri.
Não tem mais Leminski, nem Kolody.
Dele, resta o lamento:
- Esta vida é uma viagem; pena eu estar só de passagem.
Dela, um alento:
– Para quem viaja ao encontro do Sol é sempre madrugada.
De mim, o consolo:
– Saudade és a ressonância de uma cantiga sentida, que embalando a nossa infância, nos segue por toda a vida .
Curitiba querida DOS BONS TEMPOS, que bom que eu te vivi !
Para os sapatos tinha a Cirandinha.

UBIRATAN LUSTOSA
Radialista, pioneiro do rádio e da TV em Curitiba.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

     O Prazer da Leitura 
     Rubem Alves 
Alfabetizar é ensinar a ler. A palavra alfabetizar vem de “alfabeto“. “Alfabeto“ é o conjunto das letras de uma língua, colocadas numa certa ordem. É a mesma coisa que “abecedário“. A palavra “alfabeto“ é formada com as duas primeiras letras do alfabeto grego: “alfa“ e “beta“. E “abecedário“, com a junção das quatro primeiras letras do nosso alfabeto: “a“, “b“, “c“ e “d“. Assim sendo, pensei a possibilidade engraçada de que “abecedarizar“, palavra inexistente, pudesse ser sinônima de “alfabetizar“... 

“Alfabetizar“, palavra aparentemente inocente, contém uma teoria de como se aprende a ler. Aprende-se a ler aprendendo-se as letras do alfabeto. Primeiro as letras. Depois, juntando-se as letras, as sílabas. Depois, juntando-se as sílabas, aparecem as palavras...

E assim era. Lembro-me da criançada repetindo em coro, sob a regência da professora: “be a ba; be e be; be i bi; be o bo; be u bu“... Estou olhando para um cartão postal, miniatura de um dos cartazes que antigamente se usavam como tema de redação: uma menina cacheada, deitada de bruços sobre um divã, queixo apoiado na mão, tendo à sua frente um livro aberto onde se vê “fa“, “fe“, “fi“, “fo“, “fu“... (Centro de Referência do Professor, Centro de Memória, Praça da Liberdade, Belo Horizonte, MG.)

Se é assim que se ensina a ler, ensinando as letras, imagino que o ensino da música deveria se chamar “dorremizar“: aprender o dó, o ré, o mi... Juntam-se as notas e a música aparece! Posso imaginar, então, uma aula de iniciação musical em que os alunos ficassem repetindo as notas, sob a regência da professora, na esperança de que, da repetição das notas, a música aparecesse...

Todo mundo sabe que não é assim que se ensina música. A mãe pega o nenezinho e o embala, cantando uma canção de ninar. E o nenezinho entende a canção. O que o nenezinho ouve é a música, e não cada nota, separadamente! E a evidência da sua compreensão está no fato de que ele se tranquiliza e dorme – mesmo nada sabendo sobre notas! Eu aprendi a gostar de música clássica muito antes de saber as notas: minha mãe as tocava ao piano e elas ficaram gravadas na minha cabeça. Somente depois, já fascinado pela música, fui aprender as notas – porque queria tocar piano. A aprendizagem da música começa como percepção de uma totalidade – e nunca com o conhecimento das partes.

Isso é verdadeiro também sobre aprender a ler. Tudo começa quando a criança fica fascinada com as coisas maravilhosas que moram dentro do livro. Não são as letras, as sílabas e as palavras que fascinam. É a estória. A aprendizagem da leitura começa antes da aprendizagem das letras: quando alguém lê e a criança escuta com prazer. “Erotizada“ – sim, erotizada! – pelas delícias da leitura ouvida, a criança se volta para aqueles sinais misteriosos chamados letras. Deseja decifrá-los, compreendê-los – porque eles são a chave que abre o mundo das delícias que moram no livro! Deseja autonomia: ser capaz de chegar ao prazer do texto sem precisar da mediação da pessoa que o está lendo.

No primeiro momento as delícias do texto se encontram na fala do professor. Usando uma sugestão de Melanie Klein, o professor, no ato de ler para os seus alunos, é o “seio bom“, o mediador que liga o aluno ao prazer do texto. Confesso nunca ter tido prazer algum em aulas de gramática ou de análise sintática. Não foi nelas que aprendi as delícias da literatura. Mas me lembro com alegria das aulas de leitura. Na verdade, não eram aulas. Eram concertos. A professor lia, interpretava o texto, e nós ouvíamos extasiados. Ninguém falava. Antes de ler Monteiro Lobato, eu o ouvi. E o bom era que não havia provas sobre aquelas aulas. Era prazer puro. Existe uma incompatibilidade total entre a experiência prazerosa de leitura – experiência vagabunda! – e a experiência de ler a fim de responder questionários de interpretação e compreensão. Era sempre uma tristeza quando a professora fechava o livro...

Vejo, assim, a cena original: a mãe ou o pai, livro aberto, lendo para o filho... Essa experiência é o aperitivo que ficará para sempre guardado na memória afetiva da criança. Na ausência da mãe ou do pai a criança olhará para o livro com desejo e inveja. Desejo, porque ela quer experimentar as delícias que estão contidas nas palavras. E inveja, porque ela gostaria de ter o saber do pai e da mãe: eles são aqueles que têm a chave que abre as portas daquele mundo maravilhoso! Roland Barthes faz uso de uma linda metáfora poética para descrever o que ele desejava fazer, como professor: maternagem: continuar a fazer aquilo que a mãe faz. É isso mesmo: na escola, o professor deverá continuar o processo de leitura afetuosa. Ele lê: a criança ouve, extasiada! Seduzida, ela pedirá: “Por favor, me ensine! Eu quero poder entrar no livro por conta própria...“

Toda aprendizagem começa com um pedido. Se não houver o pedido, a aprendizagem não acontecerá. Há aquele velho ditado: “É fácil levar a égua até o meio do ribeirão. O difícil é convencer a égua a beber“. Traduzido pela Adélia Prado: “Não quero faca nem queijo. Quero é fome“. Metáfora para o professor: cozinheiro, Babette, que serve o aperitivo para que a criança tenha fome e deseje comer o texto...

Onde se encontra o prazer do texto? Onde se encontra o seu poder de seduzir? Tive a resposta para essa questão acidentalmente, sem que a tivesse procurado. Ele me disse que havia lido um lindo poema de Fernando Pessoa, e citou a primeira frase. Fiquei feliz porque eu também amava aquele poema. Aí ele começou a lê-lo. Estremeci. O poema – aquele poema que eu amava – estava horrível na sua leitura. As palavras que ele lia eram as palavras certas. Mas alguma coisa estava errada! A música estava errada! Todo texto tem dois elementos: as palavras, com o seu significado. E a música... Percebi, então, que todo texto literário se assemelha à música. Uma sonata de Mozart, por exemplo. A sua “letra“ está gravada no papel: as notas. Mas assim, escrita no papel, a sonata não existe como experiência estética. Está morta. É preciso que um intérprete dê vida às notas mortas. Martha Argerich, pianista suprema (sua interpretação do concerto n. 3 de Rachmaninoff me convenceu da superioridade das mulheres...) as toca: seus dedos deslizam leves, rápidos, vigorosos, vagarosos, suaves, nenhum deslize, nenhum tropeção: estamos possuídos pela beleza. A mesma partitura, as mesmas notas, nas mãos de um pianeiro: o toque é duro, sem leveza, tropeções, hesitações, esbarros, erros: é o horror, o desejo que o fim chegue logo.

Todo texto literário é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domina a técnica, se ele surfa sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto se apossa do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não domina a técnica, se ele luta com as palavras, se ele não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer: queremos que ela termine logo. Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para que seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele que está possuído pelo texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida em nossas escolas a prática de “concertos de leitura“. Se há concertos de música erudita, jazz e MPB – por que não concertos de leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão os prazeres do ler. E acontecerá com a leitura o mesmo que acontece com a música: depois de ser picado pela sua beleza é impossível esquecer. Leitura é droga perigosa: vicia... Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é deles. Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os textos - gramática, usos da partícula “se“, dígrafos, encontros consonantais, análise sintática –que não houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical do texto literário: foi-lhes ensinada a anatomia morta do texto e não a sua erótica viva. Ler é fazer amor com as palavras. E essa transa literária se inicia antes que as crianças saibam os nomes das letras. Sem saber ler elas já são sensíveis à beleza. E a missão do professor? Mestre do kama-sutra da leitura...


APERITIVOS

1. “Analfabeta não é a pessoa que não sabe ler. É a pessoa que, sabendo ler, não gosta de ler.“ (Quem foi que disse isso? Acho que foi o Mário Quintana).

2. A menininha de 9 anos me explicou como as crianças na sua escola aprendiam a ler: “Aqui na Escola da Ponte não aprendemos letras e silabas. Só aprendemos totalidades...“

3. Os compositores colocam em suas partituras indicações para orientar o intérprete: lento, presto, adagio, alegretto, forte, piano, ralentando. Os escritores deveriam fazer o mesmo com seus textos. Há textos que devem ser lidos lentamente, expressivamente, tristemente. Outros que exigem leveza, rapidez, riso. O leitor experiente não precisa dessas indicações. Mas elas poderiam ajudar os principiantes.

4. “Mais valem dois marimbondos voando que um na mão“ (Almanak do Aluá).

5. Graciliano Ramos relata que, quando menino, na escola lhe ensinaram um ditado: “Fale pouco e bem e ter-te-ão por alguém“. Ele repetia o ditado mas ficava com uma dúvida: “Quem será esse ‘Tertião’?“

(Correio Popular, Caderno C, 19/07/2001.)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

                    "A leitura de um bom livro é um diálogo incessante:
                                  o livro fala e a alma responde."
                                             André Maurois



Para iniciar o ano de 2012 muito bem com um ótimo conto!    

A Máquina da Alegria
Luiz Fernando Riesemberg

Foi quando eu tinha oito anos, em 1942, que dei a idéia para meu avô. Ele já era aposentado e dedicava o tempo a engenhar coisas no porão de sua velha casa. Vivíamos tempos difíceis por causa da guerra e quase todos os jovens da nossa cidade estavam nos campos de batalha, deixando as mães e as namoradas tristes e as sorveterias vazias.
— Vovô, por que você não inventa uma máquina da alegria? Uma em que a gente entrasse e se sentisse bem — disse eu naquele fim de tarde, quando já estávamos indo embora depois de um domingo em família. Eu sabia que ele era capaz, pois tinha trabalhado como projecionista de cinema e consertava brinquedos do parque de diversões.
Ele ficou pensativo por uns instantes e depois deu um daqueles seus sorrisos satisfeitos, dizendo:
— Os homens têm inventado muitas máquinas da tristeza, que fazem os outros chorar. É compreensível que se faça uma máquina da alegria. Eu vou pensar em algo, afinal, o que eu perderia com isso? — e me deu um forte abraço de despedida.
Dias depois ele me chamou para conversar sobre o assunto. Queria saber o que exatamente a máquina deveria fazer. Para mim, alegria eram as tortas de maçã que vovó fazia, era trocar figurinhas com meus amigos em frente ao cinema, antes do faroeste começar na matinê... esse tipo de coisa.
Como todo avô consegue ler os pensamentos dos netos, pelo menos até uma certa idade, ele sugeriu mais algumas alegrias que eu não lembrei no momento, como um bom banho de chuva numa tarde morna de verão, o cheiro de pão quentinho saindo do forno e a visão das primeiras formigas com asas que saem da terra anunciando o início da primavera. Juntos, fizemos uma lista bem grande com esses prazeres que só as crianças e os velhos percebem.
Passaram semanas e meses, e todos os dias meu avô entrava no porão para trabalhar no projeto, e só saía de lá para comer, dormir ou procurar nos arredores da cidade as peças a serem usadas na construção. A vovó e meus pais já estavam preocupados, achando que ele estava calejando as mãos e perdendo suas horas de descanso à toa na construção de um simples presente para mim. Já eu estava mais que ansioso e contava para todos que eu ia ganhar o melhor brinquedo do mundo. E enfim chegou o dia tão esperado.
Fiquei com os olhos fechados até que tivesse a permissão de abri-los, então me deparei com uma estranha geringonça amarela no porão do meu avô.
— O que está esperando, meu neto? Experimente!
Mais que depressa abri a porta da máquina e sentei no assento, enquanto recebia as pequenas instruções de como acioná-la. Foi uma viagem maravilhosa, indescritível. O invento era melhor do que eu esperava. Todas as cores, cheiros e gostos da felicidade estavam ali: um par novo de tênis; uma serenata na varanda; história de fantasmas em frente à fogueira; pescaria no rio; fruta no pé; casa na árvore; bolinha de gude; bolo de chocolate; show de mágica; canto de cigarra; ficar acordado até tarde; braço apertado de avó... Era um mundo de sensações que, hoje eu sei, me deixavam satisfeito, contente, jubiloso, deleitado e com um sorriso enorme no rosto.
Naqueles dias, todos os meus amigos quiseram experimentar a máquina, chegando a formar uma fila de meninos e meninas na casa de meus avós. Do lado de fora do brinquedo ouvíamos do felizardo da vez os seus “Oh!” e depois “Ah!” e ainda “Olhe pra isso!”, até que pequenas explosões e cheiro de queimado surgissem e fôssemos obrigados a desligar por um tempinho, para não sobreaquecer o motor.

Mas havia na cidade um homem muito mau, de quem todas as crianças tinham medo. Ele vivia com um saco nas costas, negociando sucata e objetos usados, mas tínhamos certeza de que era ele o terrível homem do saco, de quem nossas mães tanto falavam quando não queríamos tomar banho ou dormir cedo. Naquele saco imundo não teria só sucata, mas às vezes também devia haver algum menino desobediente.
Pois esse monstro ficou sabendo da máquina da alegria e resolveu roubá-la.
Entrou de mansinho no porão, na calada da noite e levou a invenção do meu avô em sua carroça. Tomei um susto quando cheguei no dia seguinte logo pela manhã, como sempre fazia, e não achei nada no lugar onde ela costumava ficar. Por dias a fio eu chorei e também choraram todas as crianças da cidade pela falta que a máquina nos fazia.
Uma semana depois ela foi encontrada em uma cabana no meio da floresta, o abrigo do Jacinto Sucateiro, como era conhecido o homem do saco. Pelo que pude entender, o mal-feitor queria desmontar a máquina para vender as peças, mas depois de ter começado o serviço, resolveu experimentá-la para saber o que ela fazia.
Imagino que ele também deve ter ficado fascinado com a experiência. De tão embasbacado com o efeito sobre sua mente e corpo, nem deve ter percebido a fumaça saindo do motor e o ruído nas engrenagens. Ele devia estar se sentindo livre como um pássaro voando, ou preso no gostoso abraço de sua mãezinha quando o fogo tomou conta da engenhoca e se espalhou pela cabana, e não se deu conta do cheiro de churrasco de si mesmo que exalava na atmosfera.
Quando o fogo foi apagado pelos bombeiros, já não restava muito o que salvar. Entre o aço distorcido e a borracha derretida dos restos da máquina, foi encontrado um corpo carbonizado e fumegante, e quem o viu podia jurar que aquela múmia de carvão expressava um sorriso tranqüilo no que antes fora um rosto.
Depois de tudo isso, meu avô disse que não poderia construir outra máquina da alegria, pois algumas peças seriam impossíveis de se achar. O tempo foi passando e fui sentindo cada vez menos falta das sensações fantásticas que pude sentir dentro daquela grande caixa amarela, até me esquecer que um dia ela já existira. Mas hoje seria ótimo se eu pudesse entrar nela outra vez e, pelo menos por alguns curtos instantes, esquecesse que aquele meu mundo, naquela cidadezinha, não existe mais, assim como não está mais aqui meu velho avô, que me alegrava tanto com os brinquedos que criava e com os abraços que me dava.